domingo, 25 de janeiro de 2015

"Quem sou eu? Eu sou uma pergunta."

Recebi muito input externo essas últimas semanas – leituras, vídeos, diálogos com amigos, e até a experiencia mais dura do confronto com a realidade e inevitabilidade da morte – que culminaram na minha vontade de escrever esse texto.

Fiquei pensando sobre as definições de tempo e sucesso da sociedade contemporânea. Já peço desculpas imediatas pelas próximas generalizações que faço - que são necessárias na hora de se escrever um texto falando sobre definições - e gostaria de deixar claro que valorizo e admiro a busca individual de cada um (para os que fazem essa busca) por suas próprias verdades, por suas próprias definições.

No geral, diariamente nossa rotina e tempo envolvem uma sucessão de longas horas de tarefas, compromissos e atividades. Nesse mundo lotado de informação, de celulares e aplicativos de produtividade, não temos tempo para expressar e viver nossas particularidades individuais: ir em busca das perguntas e respostas que mais nos intrigam, das atividades que mais gostamos. O mais preocupante não é nem a falta de tempo; é que não nos damos conta dela.

Essa loucura automática diária em que vivemos é supostamente a nossa forma de ir em busca do chamado sucesso. O sucesso, numa definição crua e mal analisada, atualmente muito atrelado ao eu: minha carreira, meu prestigio, minha casa, meu dinheiro e meus bens materiais.


Está tudo errado.

Não é somente a minha ou a sua impressão, mas os levantamentos quantitativos demonstram que as pessoas que se sentem mais realizadas não são necessariamente as que tem maior segurança material, que representa a nossa definição de sucesso. As pessoas realizadas são outras:



Essa TEDx talk em Victoria no final de 2014 do meu amigo David Lang, conta um pouco da sua história pessoal. Primeiro, de forma fantástica, David trás a noção do tempo a partir da perspectiva dos dias. Ele não conta a sua vida em anos, mas em dias vividos. E esse é um exercício que todos nós deveríamos fazer. A consciência e o apreciar de cada dia vivido pode nos ajudar a tirar nossos dias do automático: por mais que durante a semana tenhamos uma série de atividades para desenvolver, da mesma forma, todos os dias, precisamos estar conscientes de que este é um dia valioso, e temos que fazer neste dia o que realmente nos importa.

O que me importa? Como aprecio a vida diariamente?

São perguntas que precisamos nos fazer urgentemente.

Me deparar com a dolorosa realidade da inevitabilidade da morte, e da fragilidade da vida, a partir da perda de um amigo querido, colocou mais urgência ainda na minha busca por essas respostas.

Outra preciosa lição que sai da história de vida do David é a sua definição de sucesso. Lá para o final da sua talk ele afirmar “montei uma empresa, escrevi um livro, dei uma TED talk. Acho que estou realizado.”

E o que ele conclui a partir disso?

“Success is not personal”. - David Lang

Que quando a gente conquista individualmente as coisas que busca, elas não parecem mais tão especiais assim. É por isso que pessoas que atingiram a estabilidade financeira e material, quando acham que esse é todo o sentido da vida, acabam se tornando extremamente infelizes e insatisfeitas. Consquitou coisas, mas não satisfez o desconforto e a ânsia de realizar.

Diante da efemeridade e pequenez da vida individual de cada um de nós, você achava mesmo que ser apenas um ser produtor de resíduos; que tem uma casa linda, um iate e um pau de selfie, iria preencher os seus anseios mais profundos de realização pessoal? Porque estamos conscientes de que a nossa vida individual é pequena, curta e insignificante, faz sentido constatarmos que as pessoas mais felizes são aquelas que partilham: experiências, bens financeiros, conhecimentos. São aquelas pessoas que fazem algo além da sua borda: que transbordam. Que envolvem outros, que modificam e sensibilizam a vida de outros. E assim se eternizam.

“A dream you dream alone is only a dream.
A dream you dream together is reality.” – Yoko Ono

Que você tenha um bom dia.



4 comentários :

  1. Tudo que buscamos deve ter um fundo de muito amor incondicional. A partir do amor e da gratidão muitas coisas maravilhosas acontecem na vida das pessoas. O eu nunca é completo, porque o nós tem mais força e quando podemos fazer que este nós envolva muito mais pessoas, nossas ações podem ganhar o infinito. Esta força do bem é a mola propulsora que deve permear as atitudes das verdadeiras pessoas do bem. Que o conhecimento a ciência e sabedoria sejam empregadas na busca de uma vida melhor para todos.

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  2. Concordo com boa parte da reflexão. No entanto, permita-me explorar outra perspectiva: Existe, de fato, satisfação plena? Será que esta pseudo satisfação plena inerente as pessoas bem sucedidas não seria um mecanismo para sair da inércia, de modo a mante-las sempre em buscar de algo? Então, chegamos à sua pergunta "O que me importa ?". Em geral, ao sair da infância, o homem se torna um mero produto dos valores da sociedade em que vive, abdicando os seus próprios valores. Dessa maneira, como é possível saber o que realmente nos importa diariamente, se em muitos casos nem sabemos o quais são os nossos valores? Talvez as pessoas não façam esse tipo de questionamento justamente para evitar um confronto direto com seus medos e frustrações mais profundos. Diante desta conjectura, as pessoas acabariam tendo que assumir, agora para si mesmas, uma ilusão que, a partir dai, sabidamente seria infundada nos seus próprios valores..

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  3. "O sucesso, numa definição crua e mal analisada, atualmente muito atrelado ao eu: minha carreira, meu prestigio, minha casa, meu dinheiro e meus bens materiais."

    Boa frase. É disso que temos que buscar nos desvencilhar, ainda que apenas interiormente. Com muita elegância e sobretudo bom humor, Alain de Botton tangenciou por essas e outras bandas e ofereceu algumas soluções. Uma delas: descubra o seu próprio sucesso em vez de se espelhar no dos outros. Essa é a chave, uma espécie de "desmisturação" do eu e do extra-eu. Link pro vídeo:

    https://www.ted.com/talks/alain_de_botton_a_kinder_gentler_philosophy_of_success

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  4. "O sucesso, numa definição crua e mal analisada, atualmente muito atrelado ao eu: minha carreira, meu prestigio, minha casa, meu dinheiro e meus bens materiais."

    Boa frase. É disso que temos que buscar nos desvencilhar, ainda que apenas interiormente. Com muita elegância e sobretudo bom humor, Alain de Botton tangenciou por essas e outras bandas e ofereceu algumas soluções. Uma delas: descubra o seu próprio sucesso em vez de se espelhar no dos outros. Essa é a chave, uma espécie de "desmisturação" do eu e do extra-eu. Link pro vídeo:

    https://www.ted.com/talks/alain_de_botton_a_kinder_gentler_philosophy_of_success

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